Continuação da segunda parte...
Os demais acusados de conspiração foram condenados à morte e executados. Graças a uma intriga de eunucos, Lu logrou escapar à pena capital, mas foi exilado para Huantcheú.
Passaram-se muitos anos. A inocência de Lu foi finalmente provada diante do Imperador. Este mandou restituir àquele o cargo de secretário de Estado, juntamente com o título de Duque de Yen-ru. Daí por diante, o soberano passou a cumulá-lo de favores excepcionais e ele nunca mais conheceu reveses.
Lu tinha conco filhos. Todos eram dotados de grande talento e ocupavam altas funções no governo. A felicidade do velho Lu era ainda aumentada pela presença de uma dezena de netinhos.
Estava ele, pois, no apogeu da prosperidade e das honras; sua carreira de homem de Estado ia pra mais de conquenta anos. Por duas vezes, no longo trajeto, conhecera o exílio e a mais tenebrosa desgraça. Mas quis a sorte que, depois de cada queda, encontrasse meios de levantar-se e de reaparecer no cenário governamental.
Fatigado pela idade, solicitava ao imperador, com insistência, a reforma, mas em vão. Acabou por cair doente. Médicos celebres, remédios preciosos, nada foi negligenciado para tentar sua cura. Apesar disso, a morte aproximava-se rapidamente. Na véspera do trespasse, Lu endereçou uma mensagem de adeus ao Imperador, vazada nestes termos:
"Eu, vosso humilde servidor, era, de origem, um simples estudante de Changton, não tendo outra ocupação senão o trabalho nos campos. Quis o acaso que eu pudesse aproveitar-me dos altos destinos do Império e ascendesse à hierarquia dos magistrados. O receio de mostrar-me indigno de vossa bondade celeste, ou de ser inútil ao vosso reinado tão cheio de sabedoria, não me consentiu gozar qualquer repouso no decurso de toda a minha vida. Tal pensamento me atormentou dia e noite. Eis-me agora, no limiar da morte. Amanhã, as horas e os diascessarão, para mim, seu curso. Octogenário, por que deveria eu lamentar a sorte destes nervos e ossos desgastados até a última fibra? Mas, contra minha vontade, tenho que deixar para sempre vosso grande reino com um sentimento de infinita devoção e de reconhecimento."
No dia seguinte, o Imperador lhe concedeu a seguinte resposta:
"Dotado de virtudes incomparáveis, fostes-me um colaborador de primeira ordem. Graças ao vosso devotamento, meu reino floresceu. Até há poucos instantes, julguei que vossa doença fosse passageira. Quem haveria de crer que fosse ter tão graves consequencias? Exprimo-vos minha compunção e ordeno ao general da cavalaria imperial, Kao, que me represente junto à vossa cabeceira. Cuidai bem de vós mesmo por amor de mim, vosso amo, e fazei por nutrir a esperança de um pronto estabelecimento!"
Nesta mesma tarde, Lu expirou.
O jovem Lu acordou. Espreguiçou-se. Olhou em torno de si e constatou que ainda se encontrava na pousada, estendido sobre a esteira. A seu lado, o velho taoísta continuava sentado, taciturno e imóvel. O milho do estalajadeiro não estava de todo assado. O cenário não mudara.
Por longo tempo, o jovem permaneceu pasmado, inconsolável. Depois, agradeceu ao taoísta, dizendo-lhe:
- Tudo quanto diz respeito ao caminho que leva à honra ou à humilhação, aos ensejos de prosperidade e miséria, às razões de êxitos e de reveses - acabo eu de experimentar, segundo creio. Compreendo tudo agora. Pois conseguistes, mestre, dissipar-me as ilusões. Vossa lição será para sempre lembrada.
Saudou muitas vezes o Pai Li, encostando a fronte no solo. Depois, foi-se embora.
(Tradução de Alda de Carvalho Ângelo, e adaptação de Caroline Mendes.)
3 comentários:
Chegamos ao final da história.
Gostei muito. E espero que nós aprendamos que podemos, sim, ser felizes tendo tudo o que temos, sem ficar o tempo todo desejando mais e mais.
Beijos.
Parabens..vc escreve maravilhosamente bem...incrivel...
Legal este seu espaço/estilo/blog.
Abraços!
P.S.: Continue criando! Gostei!
http://SELVAbrasil.blogspot.com
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